quarta-feira, 23 de maio de 2012

O céu dos suicidas



LÍSIAS, Ricardo. O céu dos suicidas. Rio de Janeiro: Objetiva/Alfaguara; 2012. 186 páginas. 

É o terceiro livro que leio da coleção Alfaguara, da editora Objetiva, e pode ser que eu esteja enganada, mas ao que tudo indica, os livros são todos excelentes.  Pelo menos, os outros dois que eu li e mais esse...
Não me lembro se já comentei isso em algum outro texto, mas há algumas coisas que me levam a comprar um livro, principalmente, sem conhecer o autor e a história. A capa - se me chama a atenção, pego e levo! E, o título - adoro títulos diferentes e criativos/inteligentes... então, quando se tem os dois, é compra na certa. Já me decepcionei com alguns livros que comprei e li por pura teimosia (ex: ver post Unhas), mas, nesse caso, nem um pouco...

O livro tem um mistura de ficção com realidade, com um personagem irreal e outro real... Bem poderia ser uma passagem na vida real, mas... vou precisar de mais pesquisas pra saber se é tudo verdade ou não!


O personagem principal é o próprio autor, melhor, o nome do personagem principal: Ricardo Lísias. Um colecionador nato e um doutor em Hístória que se encontra perdido, desestruturado, sem rumo, após o suicídio de um grande amigo e embarca numa odisseia em busca de respostas e já não consegue mais se reconhecer em seus próprios pensamentos e atos.

Em "O céu dos suicidas", Ricardo é um especialista em coleções, perito em assimilar a aura dos objetos e que, no fim de sua adolescência, descarta sua coleção de selos e tampinhas, que o dá a impressão de ter renunciado à própria autenticidade. Mas, ao retomar sua coleção de selos, recebe uns envelopes de sue tio-avô, que são correspondências entre as cidades de Santos-Brasil e o Líbano. Sabe-se lá porque, ele insiste que o tio-avô era um terrorista e vai em busca de provas!

Mas, as viagens de Ricardo não se limita ao Líbano. Desde que seu amigo André se suicidou, ele se culpa por não ter feito nada para impedi-lo (principalmente, pelo fato de ter sido a última pessoa a ver André vivo) e num passa a enlouquecer e a ter intermináveis insônias (para que insônia, sabe o pesadelo que é!)por causa de uma única pergunta sem resposta: para onde os suicidas vão depois que morrem? A cada pergunta, a mesma resposta: não há céu para quem comete o suicídio! E isso vai corroendo a sua sanidade, pois ele se nega a simplesmente aceitar que, por melhor que seja a pessoa, mesmo que esta comete o suicídio, ela merece o seu céu.

O livro é muito bom! Não conhecia as obras do autor, mas, ao pesquisar a respeito dele, há outras obras tidas como tão boas quanto essa. É um texto tranquilo e gostoso de se ler! Por muitas vezes, imaginamos o sofrimento que o personagem passa para conseguir uma única resposta e a sua revoltar em não tê-la! Há um exagero (que provavelmente é proposital) que dá maior realidade a cada linha. Essa passagem traduz muito bem o drama,  o desequilíbrio emocional, a culpa que o personagem passa...

"De novo, começo a chorar. Não consigo resistir. Estou chorando porque o André se enforcou uma semana depois de ir embora da minha casa. Choro porque falei que na minha frente ele não iria se cortar. Na minha casa,não. Estou chorando nesse hospício chique porque só fico nervoso. Nesse hospício chique. Fico nervoso e ao mesmo tempo me sinto um fraco. E choro porque não entendi nada. Comecei a chorar no meio de todos eles porque coloquei um apelido no André. A gente ria muito. Choro porque a gente ria muito, porque o coloquei para fora de casa e uma semana depois me ligaram para dizer que ele tinha se enforcado. O meu amigo estava muito sozinho. O meu amigo se enforcou. Não paro de chorar porque o André tinha se enforcado, porque só fico nervoso e porque todo mundo diz que quem se mata não vai pro céu. Não consigo parar de chorar agora." pp.55-56

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mortos entre Vivos

LINDQVIST, John Ajvide. Mortos entre vivos. São Paulo, Tordesilhas; 2012. 352 páginas

E mais uma vez, cá estou, escrevendo sobre zumbis... E, nesse caso, o livro trata além de uma simples narrativa de mortos que 'acordam' e vivem como mortos-vivos, ou, zumbis! Só que, pelo primeira vez, leio um livro que trata os seres de uma forma diferente, buscando entender e mostrar que eles podem 'sentir' alguma coisa - não como nós humanos sentimos, mas, sentir! E, o melhor exemplo disso, principalmente para lembrar que os zumbis eram pessoas 'normais' antes da transformação, é o vídeo, postada a baixo, intitulado Zombie in a Penguim Suit - de Chris Russel, disponível no youtube: (Assistam - até o fim, vale a pena!) 






Agora, vamos ao livro...

O autor de Mortos entre Vivos, o sueco John Ajvide Lindqvist, teve como obra de estréia  Låt den rätte komma in - que aqui no Brasil foi traduzido como Deixa ela entrar - 2004, e tem sido aclamado como o novo mestre do terror. Esse é o seu segundo romance (2005), que a primeira vista tem uma narrativa simples, o surgimento de zumbis nas ruas de Estocolmo. Porém, o grande detalhe: a abordagem da complexidade psicológica e social do assunto!

Apesar de ser considerado como terror, e de ter cenas que realmente parecem que está passando um filme de terror, daqueles que fechamos os olhos de tanto medo, o livro é muito triste... é doído! É triste mesmo. O drama que os personagens passam que é aterrorizante! Aflitivo!

"A morte é apenas a agulha que abre o olho para que você finalmente possa ver a luz em que vivíamos." Eva-Stina Byggmästar.

De repente, os aparelhos eletrônicos param de funcionar, uma onda de calor e cefaleia (vulgo dor de cabeça!) acomete a todos... são prenúncios de um fato que vai mudar a vida das pessoas! Numa determinada noite, os mortos recentes voltam a vida sem nenhuma explicação (aparente!), levando à população ao terror, ao desespero e, principalmente, ao saudosismo. E o Governo sem saber o que fazer... 
A história se desenvolve a partir de três família e 5 personagens principais: a garota Flora e sua avó Elvy, o jornalista Mahler e sua filha Anna e o humorista David. Cada um com seu sofrimento e reação... David perde a esposa, Mahler tenta 'resgatar' o neto morto, Elvy que acredita ser um sinal de Deus e de sua ira contra os Homens e Flora que, teoricamente, dá a entender ser a personagem mais importante e que desvenda o mistério, mas que se perde ao longo do livro!

E assim, tudo se desenvolve... E, está enganado quem pensa que nesse caso os mortos voltam para se alimentarem dos vivos, ou buscarem o ente querido e que eles sejam os principais personagens. Os 'redivivos'  são entes queridos falecidos, que  com seu retorno, despertará nos vivos sentimentos que foram interrompidos, em busca de uma segunda chance para corrigir os erros, perdoar ou ser perdoa, prorrogar a despedida ou até mesmo conseguir dizer adeus.

Na verdade, há mais um conflito psicológico entre a morte e a vida do que a mera descrição de quem morreu e voltou  ... o autor retrata os mortos-vivos em seu final, a grande explicação! Que, de acordo com um amigo que também leu o livro, uma explicação 'kardecista'! 

Em vários momentos, o livro se torna cansativo, chato, com coisas que considero desnecessárias e falha em abordar passagens mais interessantes. A parte mais chocante do livro é a tentativa desesperada do jornalista Mahler em trazer de volta seu neto Elias, que havia falecido um mês antes. E, na minha opinião, é o melhor personagem do livro! 








terça-feira, 15 de maio de 2012

Trilogia da Escuridão - Noturno, A Queda e Noite Eterna


DEL TORO, Guillermo & HOGAN, Chuck. Noturno. Rio de Janeiro, Rocco; 2009. 463 páginas.
_________________________________ . A Queda. Rio de Janeiro, Rocco; 2010. 349 páginas.
__________________________________. Noite Eterna. Rio de Janeiro, Rocco; 2012. 414 páginas.


Foram exatamente 484 dias, ou 1ano e 4 meses, de espera para ler o terceiro e último livro da Trilogia da Escuridão, de autoria de Guillermo Del Toro (sim, irmão do ator Benício Del Toro!) e de Chuck Hogan. E, valeu cada minuto de espera... o livro é de tirar o fôlego!!! 
Del Toro já é conhecido por ter dirigido filmes como Blade II e Hellboy I e II e, o melhor dele, O Labirinto de Fauno.. portanto, só com o seu curriculum, já pode-se ter uma ideia do que podemos esperar de seus livros!

A "Trilogia da Escuridão"  tem como Livro I -  Noturno (2009)... 

"Eles estiveram por aqui. Em silêncio e na escuridão. Esta noite a hora deles chegou. Vampiros... em uma semana, Manhattan será destruída. Em um mês, os Estados Unidos. Em dois meses - o mundo."

Os livros falam de vampiros. Mas, esqueça a imagem romantizada dos vampiros ( a la Crepúsculo) ou que são meros 'sugadores' de sangue ( a la Bran Stoker)! Aqui, eles são uma mistura de vampiros com zumbis e são apavorantes e muito nojentos! Seu esteriótipo é aterrorizante (imagino como seriam se, por acaso, o livro for filmado - que, ao que tudo indica, será!)... São seres considerados uma praga, analogia feita - no livro I - aos ratos! Isso, uma praga de ratos! 

Tudo começa no Aeroporto Internacional JK, em Nova Iorque, em um Boeing 777 da Regis Airline, vindo de Berlin... Até aí, nada de anormal, o problema é que, de repente, o avião apaga, as janelas se fecham e os canais de comunicação são silenciados! Nenhum sinal de vida... Nada! Os passageiros são dados como mortos e surge o pânico de um possível ataque biológico. Dessa forma, o Dr. Ephrain Goodweather - responsável pelo Projeto Canário, do Centro de Controle de Doenças, é acionado e é o primeiro a subir a bordo do avião... e é aí que o seu pior pesadelo inicia! 

O protagonista da história é o próprio Dr. Eph, uma pessoa normal, tranquilo, divorciado e que só quer passar o seu tempo ao lado de seu filho Zac.Tem uma relação um tanto quanto conturbada com sua ex-mulher, Kelly e tenta manter uma relação amorosa com Nora, colega de trabalho.

Além desses personagens, outros surgem ao decorrer dos livros... 

O foco passa, principalmente nos livros I e II, para Abraham Setrakian, um senhor dono de uma loja de penhores, sobrevivente do Holocausto, e grande especialista em Vampiros. Além dele, surge Vasily - que trabalha com controles de pragas, e, com o passar das linhas, percebemos que nenhum personagem surge por acaso e depois desaparece... está tudo interligado.

Uma "pandemia vampiresca" se espalha por todo a cidade de Nova Iorque... E o Livro I dá início à essa trilogia sensacional. O livro prende do início ao fim, e, na última página, já comecei a contar os dias para ler a sua continuação...

O Livro II - A Queda (2010), os autores conseguiram manter o mesmo nível de suspense e de criatividade. Normalmente, quando se fala em trilogia, o segundo livro é sempre mais fraco, coisa que não acontece aqui! É emoção do princípio ao fim... A tensão da história tem início com Noturno e se mantém em A Queda. 

Nesse livro,já ocorreu uma pandemia mundial. É descoberto pelo Dr. Eph, que é através de um vírus devastador que a humanidade está sendo condenada. Durante as 349 páginas, algumas questões são levantadas, tal com a origem dessa mal, quem é ou o que é o Mestre, e descobertas são reveladas, como a ideia do 'Ente Querido', que é quando uma pessoa ao ser transformada, volta para buscar seu ente! Ou seja, nesse caso, a ex-mulher de Eph - Kelly, é contaminada e volta para buscar seu Ente Querido - Zack , seu filho. Além do 'combate entre o bem e o mal', em A Queda o leitor começa a entender como tudo realmente começou e a guerra travada pelo Mestre para conquistar o mundo.

Surge também, nesse segundo livro, as crianças cegas, que como o nome diz, são crianças transformadas em seres controlados pelo Mestre, cegas e que nos remete á uma imagem assustadora...mesmo! 

No livro há, também, uma excelente (imagino em um filme!) combate entre Setrakian e o Mestre (Sem Spoiler - Ok!), que merce toda a atenção e nos leva ao êxtase! Sim, chegamos (eu cheguei!) a torcer e vivenciar cada movimento!

E, finalmente, depois de muitos dias, mais de um ano de espera e alguns emails enviados para a Editora Rocco (sim, eu fiz isso!) FINALMENTE, é lançado no Brasil o terceiro e último livro da séria A Trilogia da Escuridão...  Livro III - Noite Eterna.
(Aqui vale um comentário: Estava eu, mera mortal e leitora, em um Shopping em São Paulo e, como de costume, vou direto para a livraria... e, ao entrar, me deparo com um funcionário levando os livros para serem expostos... preciso dizer que olhei pra ele e disse, 'um é meu!'? Acho que não,né?rs)


"Saber era a pior parte. Ter consciência de insanidade não torna uma pessoa menos  insana. Ter consciência de estar se afogando não torna a pessoa menos propensa a se afogar, só acrescenta a isso o fardo do pânico. O medo do futuro e a lembrança de um passado melhor, mais alegre, contribuíam tanto para o sofrimento  de Eph quanto a própria praga vampiresca." (p.16/17)

Só com essa passagem já dá pra sentir o clima do Livro III... É muito tenso. Tudo bem que às vezes a sensação que se tem é que os autores se perderam um pouco na história, mas é só virar a página que tudo volta ao normal! E tem momentos de tirar o fôlego! 

Já se passaram 2 anos desde o início da contaminação. Agora, a raça humana está  á beira na aniquilação e os vampiros estão dominando o mundo.  Enquanto a noite domina o dia, o sol aparece  por apenas 2h a cada dia, e a noite eterna persiste, contribuindo para a propagação da peste. Houve extermínio em massa - onde os mais poderosos, os mais inteligentes, mais ricos e mais influentes Homens foram dominados pelo Mestre. Surgem, assim, novas castas, como humanos que não foram transformados, segregados por características como: os inúteis,  os reprodutores e a sangria (pessoas com sangue tipo B e que sustentam o vasto exército do Mestre.)

O futuro da humanidade (sim, é isso mesmo!) está nas mãos do D. Eph, de Nora, Vasily e o sr. Quilan, descendente do Mestre que busca por vingança. A história toda gira em torno desses personagens, além de Zack e do Mestre. O livro mistura ficção com história, principalmente bíblica, pois os arcanjos Miguel, Gabriel e Ozriel também surgem. O eterno conflito entre o bem e o mal, entre Deus e o 'Diabo', e a eterna vingança e traição.

O Livro III fecha com chave de ouro a Trilogia da Escuridão! O final chega a ser triste e ainda continuando pensando se poderia ter sido diferente... Talvez não!
Ao que tudo indica, mesmo, e informações que saíram aqui é que a trilogia será mesmo filmada e, tenho certeza, assim como o livro, valerá a pena! 

"Hoje a noite pertence a eles, e a escuridão pode ser eterna. Em poucos anos, a epidemia de vampiros dominou o planeta, escravizando a humanidade para a alimentação e deleite do Mestre. Aparentemente, eles ganharam. Aparentemente, pois, em algum lugar lá fora, uma rede de humanos livres mantém a resistência viva."